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No Alvo com Eron Falbo

Artigo: Um guia para encontrar as tribos perdidas de Israel

Alguns antropólogos e teólogos atuais diriam que o nome do atual Estado de Israel está incorreto, ou ao menos incompleto. Afinal de contas, ele é composto pelos descendentes de só uma das 12 tribos de Israel, Judah (Benjamin se assimilou dentro de Judah). As outras 10, são consideradas perdidas, ou foram assimiladas a culturas estrangeiras. Dizer que Israel está incompleta não é insolência, anti-semitismo, nem mesmo falta de reconhecimento pelos milenares méritos do povo judeu, mas uma lealdade à tão esperada escatologia das 3 maiores religiões do mundo, e a Torah, que promete o retorno e união das tribos.

Mapa com a distribuição original das 12 tribos.

Alguns diriam que o certo seria chamar o estado de Judeia, ou até mesmo Fariséia, pois entre os descendentes de Judah, só os Fariseus se mantiveram organizados e homogêneos. No entanto, alguns dos fundadores de Israel já tinham como missão resgatar as gargantas roucas dos gritos de desespero, daqueles espalhados pelo mundo. Estes, que clamam por suas origens legítimas da diáspora de Israel, ou aqueles que imploram pela misericórdia de seus governantes e sábios, que podem consagrá-los como justos convertidos e seus descendentes como Bnei Israel.

Mais de 3 bilhões de pessoas do mundo acreditam em religiões abraâmicas, portanto, mais da metade da população do mundo, por volta de 54%, de uma forma ou de outra, acredita nas profecias da Bíblia judaica, o primeiro cânone das três grandes religiões abraâmicas.

Uma das crenças fundamentais derivadas da Bíblia judaica é a futura união das 12 tribos de Israel. Durante os 3000 anos de história do povo Israelita houveram muitas divisões. As doze tribos se separaram em dois blocos, hoje conhecidos por Judéia e Samaria. Só os habitantes da Judéia se mantiveram culturalmente intactos. Depois, a Judéia se separou em três grandes ramos, Fariseus, Saduceus e Essênios, só sobreviveram culturalmente os Fariseus. E finalmente nos dias de hoje os Fariseus são separados de grosso modo entre Ashkenazim, Sefaradim ou Mizrahim, Chassídicos e Reformistas. Mesmo dentro dessas categorias existem inúmeras sub-denominações e complicações. Parece que a cada geração, a separação é maior e alguns dos fragmentos vão se perdendo na imensidão da história.

Profecias

Existe uma piada clássica na comunidade judaica, “Quando se encontram dois judeus sempre há pelo menos três opiniões”. A discordância e desunião das dezenas de subculturas judaicas é realmente impressionante considerando que o povo sobreviveu milhares de anos contra todo tipo de adversidade. Mesmo com o advento do estado moderno de Israel, a união das 12 tribos parece mais impossível do que nunca.

No entanto, existe outra profecia que parecia igualmente intangível, que o mundo inteiro hoje está testemunhando em suas páginas digitais. No pentateuco diz-se que haverão três grandes exílios, que o povo será expulso da terra prometida e voltará três vezes. O primeiro é relatado no próprio pentateuco, quando Jacó e seus filhos vão morar no Egito. O segundo foi com a destruição do primeiro templo pelos Babilônios, e o terceiro com a destruição do segundo templo pelos Romanos. E aí, a bíblia diz que no último o povo será espalhado pelos quatro cantos da terra e promete:

Quando todas essas bênçãos e maldições que coloquei diante de vocês lhes sobrevierem, e elas os atingirem onde quer que o Senhor, o seu Deus, os dispersar entre as nações, e quando vocês e os seus filhos voltarem para o Senhor, para o seu Deus, e lhe obedecerem de todo o coração e de toda a alma, de acordo com tudo o que hoje lhes ordeno, então o Senhor, o seu Deus, lhes trará restauração e terá compaixão de vocês e os reunirá novamente de todas as nações por onde os tiver espalhado. Mesmo que tenham sido levados para a terra mais distante debaixo do céu, de lá o Senhor, o seu Deus, os reunirá e os trará de volta. Ele os trará para a terra dos seus antepassados, e vocês tomarão posse dela. Ele fará com que vocês sejam mais prósperos e mais numerosos do que os seus antepassados. (Deuteronômio 30:1-6)

De nada vale uma profecia que não seja clara, comprovadamente escrita antes dos fatos profetizados, e falsificável (que possa se tornar falsa, não acontecer, sem ambiguidade). Por exemplo, se alguém diz “Amanhã os jogadores do Flamengo vão conquistar grandes vitórias pessoais,” isso não é falsificável, pois o resultado é ambíguo, mas se dissesse “Amanhã o Flamengo vai ganhar a Taça libertadores da América”, isso é falsificável, pode ser que não aconteça amanhã. O valor de uma profecia é aumentado pela improbabilidade do profeta ter acesso a informações e influência sobre os acontecimentos. Seria fácil profetizar que haverá um campeonato brasileiro de futebol no ano que vem. Mas se alguém no século XV tivesse dito que em algumas centenas de anos o mundo inteiro iria disputar os jogos olímpicos, isso seria incrível.

Quanto mais tempo se passa, mais impressionante. Seja a Bíblia escrita pelo homem ou por Deus, está relatado claramente que o povo judeu iria sofrer exílios, se espalhar pelo mundo inteiro e voltar para a terra de seus antepassados. Ela ainda faz uma promessa mais ousada — que serão mais prósperos que jamais foram. Eles podiam não ter voltado, se assimilado e se perdido dentro de outras culturas. E ainda podiam ter voltado à terra e se tornado uma nação com grandes dificuldades econômicas. Essa era a maior probabilidade. Israel era um micro reinado irrelevante para o mundo, só imaginar que seus habitantes pudessem se espalhar pelo mundo todo seria loucura; afinal nem se conhecia a extensão do mundo. Depois, dizer que iriam sobreviver, durar 2000 anos, e ainda voltar à terra com governo próprio, é uma previsão e tanto.

Hoje esse texto desse micro reinado do oriente médio é o maior best-seller do mundo e não só o povo judeu como todas as nações do mundo têm acesso a ele. Portanto esta profecia não só é correta como testemunhada por todos. Hoje, a maior parte do povo judeu já voltou para a terra e estão mais prósperos e numerosos do que jamais estiveram. É o 5º melhor país do mundo em inovação de acordo com o ranking da Bloomberg de 2019 e o 2º país mais dinâmico de acordo com o ranking da Grant Thornton. Além disso está entre os 20 maiores países em PIB per capita, de acordo com o FMI. Enquanto isso, outras nações formadas depois de 1945 estão lutando só para sobreviver. Se tivessem que apostar que isso ia acontecer até em 1947, um ano antes da fundação de Israel, não seria uma aposta muito segura, os obstáculos eram e ainda continuam colossais.

O Mosaico de Israel

O povo judeu não tem liderança universalmente reconhecida. Não tem uma figura de um papa ou Dalai-lama que represente todos os religiosos, nem mesmo um dos magnatas judeus é respeitado pela maioria do povo, cada comunidade pequena tem seus próprios costumes, crenças e liderança comunitária.

Cada comunidade é uma abelha em busca de uma flor diferente, e a colmeia é a única coisa constante no judaísmo mundial, o pergaminho da Torá. Ele é o mesmo em Shanghai e em São Francisco. No entanto, uma grande parcela de judeus até repudiam a religião judaica, e ainda se consideram judeus. E mais, existem milhões de pessoas espalhados pelo mundo que dizem se sentir judeus, desde tribos africanas, grupos na Índia, evangélicos americanos, até Japoneses!

Existem japoneses que dizem que toda a cultura nobre do Japão vem de uma tribo perdida de Israel. De fato os religiosos em treinamento conhecido como os Yamabushi, usam uma Caixa preta na cabeça quase igual ao do Tefilin (filactérios). E existe uma lenda relatada por Arimasa Kubo de que no início da cultura japonesa, na antiguidade, um guerreiro que buscava ter poderes sobrenaturais, visitou um sábio que morava numa montanha e recebeu dele um “pergaminho do tigre”, tigre em Japonês é “Torá”. Receber a Torá de uma montanha e adquirir poderes sobrenaturais lembra outra coisa:

“Acontecerá, se obedecerdes diligentemente Meus preceitos, que Eu vos ordeno neste dia, de amar o ETERNO, vosso D’us, e servi-Lo com todo vosso coração e com toda vossa alma; então darei a chuva para vossa terra a seu tempo, a chuva precoce e a chuva tardia; colherás teu grão, teu mosto e teu azeite. Darei erva em teu campo para teu gado, e comerás e te saciarás.“ Deuteronômio 11:13-21

Um Yamabushi tocando uma especie de Shofar. Vestido de branco, como um cohen, sendo que no budismo clássico os sacerdotes usam roupas coloridas.

Então o certo não é dizer herança judaica, e sim herança Israelita. A insatisfação de certos judeus com a religião, e ao mesmo tempo a total lealdade dos próprios, e de outros, com a identificação com Israel, leva a crer que para essas pessoas algo está faltando na representação de Judah. Sabemos que estão faltando 10 das tribos, e consequentemente seus costumes, suas ideologias e interpretações da Torá.

Quando elas se separaram nos acontecimentos relatados em 1 Reis, a razão dada foi por que Judah não representava mais o resto das tribos como líder, ou seja: existia algo que era Israel como um todo, que Judah se distanciou. Se hoje os únicos representantes de Israel são os descendentes de Judah, que mesmo na época tinha se distanciado do resto de Israel, faz sentido que aqueles que se sintam parte de Israel, inclusive, até os próprios Judeus (descendentes de Judah), se sintam não inteiramente representados pelo Judaísmo, e portanto pelo atual Estado de Israel. Decifrar o que é essa Israel que é muito além de só Judah, seria essencial para a união das 12 tribos e o cumprimento da redenção profetizada pela Bíblia.

Alguns religiosos alternativos pensam que para ser digno de seu nome, o moderno estado de Israel poderia ativamente promover a descoberta das características que vão além da tribo de Judah e o descobrimento dos povos que seriam os descendentes das outras tribos. Como na história de José que finalmente se revelou e se reuniu com seus irmãos depois que Judah se redimiu; Judah dos tempos modernos, os Judeus, precisam se redimir diante de seus irmãos e só assim José se revelará e os irmãos se reunirão.

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Reencontro de Irmãos

As doze tribos foram desunidas no Reino do Rei Roboão, filho e herdeiro do Rei Salomão. Muitos grandes rabinos especulam sobre qual foi o grande erro de Roboão que o fez perder o reino de Israel.

Na Bíblia é relatado que os anciãos da época aconselharam que Roboão diminuísse o esplendor da corte e diminuísse os impostos, assim como outras imposições ao povo. E que Roboão, respondeu,

[Roboão] Seguiu o conselho dos jovens e disse: “Meu pai lhes tornou pesado o jugo; eu o tornarei ainda mais pesado. Meu pai os castigou com simples chicotes; eu os castigarei com chicotes pontiagudos”.

Aqui, nesta tabela, podemos observar um resumo sobre esses acontecimentos.

O líder dos anciãos, Jeroboão, um descendente de José, foi coroado Rei de Israel e o Reino de Roboão passou a ser conhecido como Judah. O povo anunciou que não tinha nada em comum com a casa de David. Ou seja, Roboão e portanto Judah se distanciou do povo demasiadamente. Assim as 12 tribos se separaram e Israel se fragmentou, pelo orgulhoso descuido de um homem.

Vimos a mesma coisa acontecer no mundo moderno com diversas revoluções populares contra as monarquias. Talvez os maiores exemplos sendo a Revolução francesa e a Revolução russa, onde houve, também, da parte dos monarcas uma imposição de poder e um distanciamento dos interesses do povo. Nos dois casos e em muitos outros, essas revoluções trouxeram derramamento de sangue, desunião e uma quebra na tradição e cultura do povo, assim como aconteceu em Israel.

De acordo com a tradição judaica, o que distingue um tirano de um rei é que um rei é feito rei pelo consentimento do povo. Em outras palavras, o líder precisa se responsabilizar pelo bem estar do povo e conquistar seu apoio.

No livro de Gênesis, na história da venda de José para o Egito, Judah, o líder entre os irmãos, não se responsabilizou pelo bem estar de seu irmão mais novo, e permitiu que ele fosse vendido. José foi então para o Egito, que seria equivalente à assimilação as outras nações que sofreram as 10 tribos lideradas por Jeroboão, descendente de José.

Os descendentes de Judah hoje (os Judeus) vivem como viviam Judah em Gênesis, presumindo que seu irmão está morto. Não param para pensar que foi seu próprio desleixo, na época de Reboão, que causou a perda de seus irmãos.

Em gênesis, foi José sozinho que foi perdido, absorvido pelo Egito, 10 irmãos ficaram para trás (Benjamim ainda não tinha nascido). Dessa vez foi Judah que ficou para trás e 10 tribos foram perdidas. O mais irônico foi que quando Reboão orgulhosamente manteve seu reino de Judah, ele imediatamente foi atacado pelo Egito e tornou-se um estado vassalo do Egito.

A fórmula para o resgate das tribos perdidas está na Torá. Afinal, no livro de gênesis, Judah se redime e os irmãos se reúnem em alegria e prosperidade.

Os Fariseus se mantiveram intactos até hoje com o que chamam de Ortodoxia, mantendo leis rígidas que a tradição chama de os 100 portões que protegem a Torá. Sem eles provavelmente a Torá teria sido perdida nas traduções, adições, interpolações e interpretações desconectadas da tradição original de outras religiões. O mundo teria esquecido os costumes e a herança da escola de Abraão, Isaac e Jacó.

Foram eles, os ortodoxos, que trouxeram de volta a Torá até a terra prometida. E agora é necessário trazer de volta também, Israel em toda sua glória. Para isso os atuais líderes do que generosamente chamam de Israel precisam aprender com Judah, o patriarca que inaugurou a linhagem de David.

Judah se sacrificou para salvar Benjamin, seu irmão mais novo. Assim se redimiu por ter abandonado José, e José o abraçou em lágrimas, perdoando-o.

Judah não foi à procura de José, e sim se responsabilizou por quem já estava sob sua tutela, Benjamin. Assim ele unificou as 12 tribos. Igualmente Israel hoje não precisa adivinhar quem são os descendentes físicos das 10 tribos perdidas e resgatá-los. Isso seria uma solução materialista e míope, além de impraticável tantas gerações depois. Judah hoje precisa entender quem está sob sua tutela, seu irmão mais novo, as religiões do Cristianismo e do Islã, que foram derivadas de Judah.

Existem quase três milhões de cristãos e muçulmanos que habitam o Estado de Israel. Hoje o cidadão comum de Israel pensa em árabes como inimigos, agem, no geral, com tremendo preconceito e defensividade. A discussão de um lado é dar uma terra a eles a chamam de Palestina, de outro lado é ignorá-los ou deportá-los para outro país árabe. Ninguém quase fala em absorvê-los, tratá-los com respeito e tomar responsabilidade pelo seu bem estar. Ampliar as definições do Estado para incluí-los. Fazer uma Israel unida, com o apoio e não ameaça de outras religiões. Agir não como um adolescente defensivo demandando o que é seu, mas como um pai, irmão mais velho que assertivamente conduz a situação pela melhoria de todos. Sim, manter a hegemonia judaica para assegurar que o Estado promova os valores da Torá atemporal, mas acomodar e dar boas vindas aos outros povos que não só não estavam antes na terra, como cujas religiões nasceram bem depois. Afinal, todos estão esperando o direcionamento do povo do livro. Ohr leGoyim, Luz para as nações. Criar um lugar novo chamado palestina só seria um retrocesso profético. O que seria mais nobre seria Judah tomar responsabilidade por acomodar quem quer que estiver na terra, se não convertê-los para o judaísmo, ao menos inspirá-los a se chamar de Israel com orgulho e legitimar o ilustre nome que foi ambiciosamente dado ao estado.

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